Présence intime / Presença intima

préface / prefácio : 

Karel Vanhaesebrouck,

Témoignages recueillis par

Testemunhos coletados por

Tania Alice & Pascale Weber,

Dessins/ Pascale Weber,

Tradução do português para o francês & Traductions du français vers le brésilien : Tania Alice,

Maquette / Design gráfico : Pascale Weber,

Révisions du français : Jean Delsaux, Revisão do texto português : Jianne Coelho,

Éditions Hors du Carré EHDC, Paris,  2024. (horsducarre@gmail.com)

 

      

 

Présence intime. 

1. État propre à la performance artistique. 

2. Qualité du lien de deux êtres vivants qui se rencontrent. 

3. Gymnastique de l’attention qui procure du bonheur.

Presença intima 

1. Estado específico do performer na performance artística.

2. Qualidade do vínculo entre dois seres vivos que se encontram.

3. Ginástica da atenção que produz felicidade.

(P.W/T.A)

Une seule rencontre peut parfois être très importante dans une vie. Quelqu’un qui nous dit ou fait la bonne chose au bon moment. Un mot ou un geste qui nous accompagne toute notre vie. Mais nous ne nous demandons presque jamais pourquoi seules d’autres personnes peuvent générer cet impact. Nous sommes tellement conditionnés par notre vision anthropocentrée de l’univers que nous ne pouvons pas penser notre existence au-delà de notre propre présence humaine.

Dans leur projet Présence intime, les artistes-chercheuses Tania Alice et Pascale Weber inversent cette relation. Ce n’est pas l’Homme qui est la mesure de sa propre existence, mais plutôt sa relation à l’autre. Et cet autre, ce n’est pas seulement l’Homme, mais aussi les animaux et les plantes. Nous sommes habitués à nous prendre pour l’épicentre de nos existences et nous réduisons les autres vies qui nous entourent à un « décor », et donc au statut de l’arrière-plan de nos grandes aventures et mésaventures sur cette planète que nous pensons être la nôtre.

Au cours de leurs performances relationnelles à Paris et à Rio de Janeiro, Alice et Weber ont posé à des passants une question apparemment simple : « Quel animal ou quelle plante a changé votre vie ? » De manière ludique et bienveillante, les gens étaient invités à réfléchir à la façon dont leurs vies sont intrinsèquement liées à celles des plantes et des animaux, et surtout à la façon dont ces derniers jouent un rôle dans la vie des hommes et des femmes. Le petit livre que vous tenez entre les mains est la trace de ces rencontres. Certains passants parlent de leur relation affectueuse avec leur animal de compagnie, d’autres du bien-être de leur plante d’intérieur. En effet, les plantes aussi ont besoin d’amour et sont capables de montrer qu’elles aiment et qu’elles aiment être aimées. Tania Alice et Pascale Weber ne sont pas les premières à travailler sur de la rencontre inter-espèces ni à remettre ainsi en cause l’anthropocentrisme.

Annie Sprinkle et Beth Stephens, par exemple, travaillent autour de l’écosexualité. Ou encore un chorégraphe comme Bud Blumenthal, dans sa chorégraphie Leaves of Grass, travaille autour de l’échange invisible entre les danseurs et les plantes sur scène. En 2021, la revue Performance Philosophy a consacré un numéro entier aux « plant performances ».

Dans leur travail, Weber et Alice montrent de manière joyeuse, tendre et conviviale que l’art de la performance est capable, souvent de manière imperceptible, de changer notre perspective sur nous-mêmes, sur les autres et sur notre environnement. Cela ne doit pas se faire dans le bruit (les interventions relationnelles de Weber et Alice ne se soucient pas de la transgression sportive si typique d’une autre branche de l’art performatif), mais par le biais de rencontres inattendues et d’une simple curiosité. Une confession intime a lieu dans l’espace public, non pas pour s’exposer, mais pour voir sa relation à l’environnement sous un autre angle. De manière ludique et accessible, ce petit volume illustré questionne l’anthropocentrisme moderne, non pas à travers des réflexions théoriques, mais à travers des rencontres spontanées. Le livre est donc un exercice en « anthropo-décentrisme ». Plus encore, les plantes et les animaux « performent » tout comme les humains. Ils entretiennent entre eux des relations affectives qui vont toujours dans les deux sens. Tout au long de la modernité, l’Homme moderne s’est concentré sur le contrôle, l’excavation et la domestication de son environnement. La crise de notre écosystème est la réponse inquiétante à ce trafic à sens unique.

Les performances relationnelles d’Alice et Weber ne sont pas des séances thérapeutiques. Ce sont plutôt des exercices de perméabilité : elles nous invitent à comprendre que nous sommes tous connectés à notre environnement, et vice-versa. Que nous ne sommes pas le centre de l’existence. Et tout cela à partir d’une seule et simple question. Mais les questions simples ne sont jamais faciles.

Karel Vanhaesebrouck

Um único encontro pode, por vezes, ser muito importante na vida – alguém que fala ou faz a coisa certa na hora certa. Por vezes, uma palavra ou um gesto podem nos acompanhar pelo resto da vida. Mas quase nunca nos perguntamos porque acreditamos que somente pessoas podem ter esse impacto. Estamos tão condicionados pela nossa visão antropocêntrica do universo, que não conseguimos pensar na nossa existência para além da presença humana.

No seu projeto Presença íntima (Présence intime), as artistas-pesquisadoras Tania Alice e Pascale Weber invertem esta relação. Não é o homem que é a medida da sua própria existência, mas sim a sua relação com o outro. E este outro não é apenas o homem, mas também os animais e as plantas. Estamos tão habituados a tomarmo-nos como epicentro da nossa existência, que reduzimos as outras formas de vidas que nos rodeiam a um “cenário” que assume o estatuto de pano de fundo das nossas grandes aventuras e desventuras neste planeta que consideramos nosso.

Durante as performances relacionais realizadas em Paris e no Rio de Janeiro, Alice e Weber fizeram uma pergunta aparentemente simples aos transeuntes: “Que animal ou planta mudou a sua vida?”. De forma lúdica e carinhosa, as pessoas eram convidadas a refletirem sobre a forma como as suas vidas estão intrinsecamente ligadas às das plantas e dos animais e, sobretudo, como estes últimos desempenham um papel na vida dos homens e das mulheres. O pequeno livro que você está segurando em suas mãos é um registro destes encontros. Alguns transeuntes falam da sua relação de afeto com seus animais de estimação, outros do bem-estar da sua planta de casa. Afinal, plantas também precisam de amor e são capazes de mostrar que amam e gostam de ser amadas. Tania Alice e Pascale Weber não são as primeiras a trabalhar em torno de encontros interespécies, desafiando o antropocentrismo em seus processos criativos. Annie Sprinkle e Beth Stephens, por exemplo, já trabalham a questão da eco sexualidade. Da mesma forma, o coreógrafo Bud Blumenthal, em sua coreografia Leaves of Grass, trabalha a comunicação invisível entre os bailarinos e as plantas no palco. Em 2021, a revista Performance Philosophy também dedicou um número inteiro às “performances com plantas”. 

Neste trabalho, Weber e Alice mostram de uma forma alegre, terna e convivial que a arte da performance, muitas vezes de uma forma imperceptível, é capaz de mudar a nossa perspectiva sobre nós mesmos, sobre os outros e o ambiente. Isto não precisa ser feito de forma ruidosa (as intervenções relacionais de Weber e Alice não estão preocupadas com algum tipo de transgressão física, característica de um determinado tipo de performance), mas através de encontros inesperados e de uma curiosidade lúdica. Uma confissão íntima acontece no espaço público, não como uma forma de exposição, mas como uma possibilidade de olharmos para a nossa relação com o ambiente sob outro ângulo. De uma forma lúdica e acessível, este pequeno volume ilustrado questiona o antropocentrismo moderno, não por meio de reflexões teóricas, mas por meio de encontros espontâneos. O livro é, portanto, um exercício de “antro-descentrismo”. Além disso, as plantas e os animais “performam”, igual aos humanos, construindo relações afetivas equilibradas entre os dois lados envolvidos. Ao longo da modernidade, o homem moderno concentrou-se no controlo, no extrativismo e na domesticação do seu ambiente. A crise do nosso ecossistema é a resposta perturbadora a este tráfego de sentido único.

As performances relacionais de Alice e Weber não são sessões de terapia. São, antes de tudo, exercícios de permeabilidade: convidam-nos a compreender que estamos ligados ao meio ambientem e vice-versa. Que não somos o centro da existência. E tudo acontece a partir de uma única e simples pergunta. Mas as perguntas simples nunca são fáceis. 

Karel Vanhaesebrouck